[Cap. XIX A bordo] Uma noite, logo no fim de uma semana, achei ensejo propício para morrer. Subi cauteloso, mas encontrei o capitão, que, junto à amurada, tinha os olhos fitos no horizonte. — algum temporal? Disse eu. — Não, respondeu ele estremecendo; não, admiro o esplendor da noite. Veja, está celestial!O estilo desmentia da […]
[Cap. XIX A bordo]
Uma noite, logo no fim de uma semana, achei ensejo propício para morrer. Subi cauteloso, mas encontrei o capitão, que, junto à amurada, tinha os olhos fitos no horizonte.
— algum temporal? Disse eu.
— Não, respondeu ele estremecendo; não, admiro o esplendor da noite. Veja, está celestial!
O estilo desmentia da pessoa, assaz rude e aparentemente alheia a locuções rebuscadas. Fitei-o; ele pareceu saborear o meu espanto. No fim de alguns segundos, pegou-me na mão e apontou para a lua, perguntando-me por que não fazia uma ode à noite, respondi-lhe que não era poeta.
Imagem: Foto Lua Cheia de Nelson Hernandez Chitiva adquirida, disponível em istockphoto.com/br, ID da foto:1489163076