hiper-romance

A denominação vem de Ítalo Calvino no ensaio “Multiplicidade”, em Seis propostas para o próximo milênio (1990). Nesse texto, o autor reflete sobre o romance do século XX e daquele que virá no novo milênio,  como grande rede ou enciclopédia aberta  e potencial, ou seja, aquela que, diferentemente do sentido etimológico do termo, não tem a  “pretensão de exaurir o conhecimento do mundo encerrando-o num círculo. Hoje em dia não é mais pensável uma totalidade que não seja potencial, conjectural, multíplice.” (CALVINO, 1990, p.131)

Pensar um livro cuja estrutura é permeada por vãos, um  corpo feito de nós conectivos, é exatamente projetar a forma do hipertexto, e, no caso do romance, o do hiper-romance, ou ainda, aquele que apresenta uma “estrutura acumulativa, modular, combinatória. Estas considerações constituem a base de minha proposta ao que chamo de “hiper-romance” e do qual procurei dar um exemplo em  Se um viajante numa noite de inverno” (CALVINO, 1990, p.134). Memorias Póstumas de Brás Cubas responde a esse pressuposto da multiplicidade e da forma romanesca do hiper-romance: “Memórias Póstumas é um clássico porque, mais atual do que nunca, inaugura, em 1881, uma das formas romanescas contemporâneas, chamada de hiper-romance por Ítalo Calvino, ao instaurar como princípio construtivo a flutuação e a turbulência de caminhos permutacionais. Estranhamento dentro do modelo realista de romance do século XIX e que levou um de seus primeiros leitores, o crítico Capistrano de Abreu, ao questionamento: “Memórias Póstumas de Brás Cubas serão um romance?”. (OLIVEIRA, MRD, O legado de Memórias Póstumas de Machado de Assis. Revista  Olho d’água,  UNESP,  São José do Rio Preto, 2019, p. 13).