Esse é um conceito, dentre outros, elaborados por Roberto Schwarz (1938 – ), crítico literário e autor de ensaios dos mais representativos da fortuna crítica da obra machadiana, especialmente em Um mestre na periferia do capitalismo (1990), livro dedicado a uma abordagem das mais originais sobre Memórias Póstumas de Brás Cubas.
Dedica-se à crítica dialética, na linhagem de Lukács, Benjamin, Brecht e Adorno, que busca na forma literária as tensões presentes na sociedade de seu tempo.
Brás Cubas é o exemplo do narrador volúvel no sentido de ser um representante dos caprichos, inconstâncias, contradições e mediocridade da elite nacional, num país periférico como o Brasil.
Destaca-se uma passagem na qual Schwarz faz uma síntese preciosa entre a forma do romance, na sua inconstância estilística, e a da formação social e cultural de um representante dessa elite como Brás Cubas:
“O narrador volúvel é técnica literária, é sinal de futilidade humana, é indício de especificidade histórica, e é uma representação em ato do movimento da consciência, cujos repentes vão compondo o mundo – vasto, mas sempre interior.
[…] Vimos que o procedimento literário de Brás Cubas – a sua volubilidade – consiste em desdizer e descumprir a todo instante as regras que ele próprio acaba de estipular.
[…] Faz parte da volubilidade, como a descrevemos, o consumo acelerado e sumário de posturas, ideias, convicções, maneiras literárias, etc, logo abandonadas por outras, e portanto desqualificadas. […] Trata-se do movimento mesmo que a História permitiu ou impunha à classe dominante brasileira tomada em bloco. Também esta devia visitar e absorver a cultura relevante do tempo, para patrioticamente aclimatá-la no país, ou seja, associá-la ao instituto da escravidão, cujo núcleo de dominação pessoal e discricionária contudo zombava da pretensão civilizada e já não era sustentável de público”. [SCHWARZ, R. 2000, p. 197; 223; 40-41]